Por Marcos Boldrin *
A glória, dizia o filósofo Bertrand Russell, é a maior das recompensas humanas e, em seu mesmo pensar, só é conquistada pelo poder.
Poder, num conceito sintético weberiano, é a imposição da vontade própria sobre a dos demais players, dos demais participantes. Assim, portanto, não há glória a se alcançar se não pelo jogo do e pelo poder.
As referências a como estas vontades são impostas ou aquiescidas, aceitas, são das mais diversas vertentes: por punições ou ameaças (físicas ou psicossociais), por recompensas ou, ainda, por persuasão; referências a quais as fontes originárias de tal poder; ao que distingue os que o exercem daqueles que são submetidos; a qual a sua natureza e estrutura; entre outros. Mais: referências ao que leva uma pessoa a aceitar a outra como autoridade ou líder.
Ora, conforme já definimos em texto anterior, intitulado “Liderança: é tempo de começarmos” (acesse aqui ), liderança para o nosso tempo é a capacidade interativa de afetos de gente influenciar e se deixar influenciar em uma determinada conjuntura, buscando alcançar objetivos e metas (de forma ética) eticamente e tendo como resultado uma transformação no ambiente (psicossocial ou mesmo fisicamente). Portanto, é uma das mais - quiçá a mais - branda das formas (por persuasão e aquiescência) do exercício do poder.
Isto é bom ou ruim? Ora, exercer poder – impondo a vontade de um em detrimento da vontade dos outros – não é bom nem ruim em uma sociedade, uma vez que nela nada se realiza sem ele. Neste sentido e se mantivermos mentes abertas a perguntas, reflexões, aliado a ausência de preconceitos em o julgar como sendo algo do mal, há muito a se aprender e aproveitar a todo aquele que se proponha liderar.
A chave nesta distinção em se considerar liderança como uma forma boa ou má de se praticar o poder reside na sua própria definição que acima citamos, detidamente na passagem: “...buscando alcançar objetivos e metas (de forma ética) eticamente...”.
Pejorativamente atribuída a Maquiavel, a frase “os fins justificam os meios” é perniciosa, de má-fé e é onde reside o demônio do mal: uma coisa só pode ser eticamente boa para as pessoas e para o grupo no qual vivemos se também é boa para todos os demais universais e também para o planeta em que vivemos. Fins bons, éticos, não justificam o emprego de meios nocivos – coisas boas só são
alcançadas de forma decente se tudo o que fizermos para lá chegarmos também for decente.
Ante isto, reflitamos, ainda, sobre o alerta do filósofo setecentista nascido brasileiro Matias Aires em sua obra “Reflexões sobre a Vaidade dos Homens”: [...] Por isso é loucura sacrificar a vida por eternizar o nome; porque dos mesmos heróis também morrem o nome, e a glória: a diferença é, que a vida dos varões ilustres compõe-se de anos, como nos mais homens, e a vida das suas ações compõe-se de séculos; porém êstes acabam, e tudo o que se encerra nêles, vem a entrar finalmente no caso do esquecimento.
Tudo no mundo são sombras, que passam; as que são maiores, e mais agigantadas, duram mais horas, mas também se extinguem, e do mesmo modo, que aquelas, que apenas tiveram de existência alguns instantes. [...] (SIC!).
Exercer o poder somente pela glória e a qualquer preço é oco; vazio. A liderança é o melhor e maior instrumento para o exercício saudável do poder e em que todos podem ganhar, numa relação ganha-ganha (win-win). Inclusive a nossa casa; o nosso próprio planeta.
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* Marcos Boldrin é Tenente Coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Arquiteto e Urbanista.
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