Pai e mãe deficientes visuais contam como cuidar dos filhos pequenos

Uma rotina "quase" comum da grande maioria das famílias. Eles afirmam "é só um estilo de vida". Veja os relatos e desafios!
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Todos os dias, a assistente social Nayara Magalhães dos Santos, de 30 anos, acorda por volta das 7h, faz o café da manhã, espera a família despertar. Ela e o marido, o analista do Ministério Público Thiago Barros Moreira, de 29 anos, se dividem, então, na função: servir comida para as crianças, escovar os dentes, trocar a roupa, levar a filha mais velha para a escola, deixar o bebê com uma das avós, ir para o trabalho.

O roteiro é o mesmo de muitas casas, a diferença é que Thiago e Nayara são deficientes visuais. Ele perdeu a visão aos 11 meses, ao retirar um tumor no nervo óptico, e ela enxerga apenas vultos, em decorrência de uma doença degenerativa. “Esse é só mais um estilo de vida, entre tantos possíveis”, resume a assistente social sobre ser uma mãe cega. A família mora em Brasília.

O caminho, dizem Nayara e Thiago, é tratar a deficiência com naturalidade

Mas essa tranquilidade nem sempre esteve presente. A gravidez da primeira filha do casal, Ana Clara, hoje com 3 anos, não foi planejada. Na época, Nayara frequentava o Centro de Ensino Especial para Deficientes Visuais, na Asa Sul, e pediu à professora que lhe ensinasse a cuidar de um bebê. As aulas, feitas com o apoio de outras mães cegas, não foram suficientes para deixar a assistente social 100% segura. Quando a menina nasceu, o casal ficou morando com a família de Nayara.

Demorei quase um mês para trocar a primeira fralda, dois meses para dar o primeiro banho. Ela chorava, e minha mãe é quem conseguia acalmá-la, não eu”, conta a assistente social.

Segundo filho - A experiência bem-sucedida levou o casal a planejar o segundo filho. Se a primeira gestação foi recebida com preocupação, a segunda foi só motivo de alegria para ambas as famílias. A chegada de Bento, prestes a completar 1 ano, também foi muito diferente. Ao invés de um parto hospitalar, Nayara e Thiago optaram por um parto domiciliar planejado.

Desafios - De acordo com Thiago, os maiores problemas são a mobilidade urbana e a falta de preparo dos estabelecimentos. “Você sai da porta de casa e é tudo horrível, as calçadas, os ônibus, os mercados”, diz. “Mas não sou eu que estou aquém do que a sociedade precisa, e, sim, a sociedade que está aquém do que eu preciso”, pontua.

As crianças aprendem, aos poucos, que os pais são diferentes

Para resolver a rotina, a família contratou um motorista, que os atende de segunda a sexta-feira. Outra medida é utilizar serviços de estabelecimentos que possibilitam compras on-line e entregas em casa. Nos fins de semana, como os programas costumam ser na casa de parentes, eles conseguem caronas e ajuda com as crianças.

Solução - Para o casal, a deficiência deve ser tratada com naturalidade, não como um "bicho de sete cabeças". As crianças aprendem, aos poucos, que os pais são diferentes, e que isso não é um problema. “Bento já entendeu que precisa levar a bolinha até a nossa mão. Do jeito dele, ele sabe que não enxergamos”, exemplifica Thiago.

Thiago: "a sociedade que está aquém do que eu preciso”.

Nayara e o marido acreditam que, como pais cegos, podem proporcionar experiências diversas aos filhos. “Não me considero nem melhor nem pior do que outros pais, apenas diferente”, diz Thiago. “Eu não posso, por exemplo, brincar de sair correndo atrás das crianças. Posso me machucar, seria frustrante para todos. Mas tenho uma relação muito forte com a música e consigo passar isso para eles”, destaca. “O que eu sei é que está tudo certo”, diz Nayara, sorrindo. Fonte: Metrópoles.

 

 

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