O técnico de enfermagem aposentado Aparecido Rúbio de Araújo, morador de Paiçandu (norte do Paraná - a 300 km de Marília), conseguiu registrar em cartório o interesse em doar o próprio corpo para que ele seja usado para estudos científicos na Universidade Estadual de Maringá (UEM).
E não é para menos: ele sofreu 13 infartos, dois AVCs (Acidentes Vasculares Cerebrais) e ficou dois meses em coma profundo. Quando morrer, o histórico de prontuários e exames médicos serão entregues à universidade. “Para que ser enterrado se eu posso ajudar depois de morto?”, ele considera.
Na verdade, o desejo de Aparecido surgiu durante uma aula de ciências, quando tinha 14 anos. Hoje, ele tem 64. Os anos se passaram e a vontade continuou a mesma, porém, até então, não existia uma forma legal para oficializar a doação.
Foi em 2000 que Aparecido conseguiu registrar em cartório o desejo. Ele informou também à própria família, como exige o protocolo. Na mesma época, quando tinha 39 anos, Aparecido sofreu o primeiro da série de 13 infartos.
‘Enorme diferença’
Para a professora de anatomia da UEM, Aline Marosti, o gesto de Aparecido é de extrema importância para a ciência e para os estudantes:
“Isso faz uma enorme diferença na formação do aluno. Só aprender por peças sintéticas ou arquivos em 3D não é suficiente para a gente formar um bom profissional mais para frente. Por isso que é importante a doação”, reforça.
Depois que um corpo é doado para a instituição de ensino, ele passa por um processo de preparação que pode durar mais de seis meses. A dissecação é feita pelos próprios estudantes de medicina, ainda no primeiro ano do curso.
Doação do corpo
As doações do corpo em vida, ou pós-morte, são regulamentadas por lei desde 1992. Um artigo do Código Civil Brasileiro prevê a doação gratuita e voluntária do corpo após a morte com o objetivo científico.
O processo pode ser feito em vida por pessoas com mais de 18 anos, desde que seja registrado em cartório. É indispensável também que os familiares estejam cientes da intenção do doador. Se não há registro feito pela pessoa em vida, a família pode também tomar a iniciativa.
Os corpos que não foram identificados, ou aqueles identificados e não reclamados pela família após 30 dias, também podem ser doados para fins de estudos.
Como manifestar a intenção de doar o corpo:
- Em vida: A forma mais segura é formalizar o desejo ainda em vida.
- Documentação: Você pode fazer isso através de um testamento, escritura pública com registro em cartório, ou um documento específico da instituição de ensino (como o Termo de Intenção de Doação Voluntária).
- Contatar a instituição: Entre em contato com uma instituição de ensino superior (IES) ou um órgão como o Conselho Estadual de Distribuição de Cadáveres (CEDC) no Paraná para saber qual a documentação e o procedimento necessário.
- Testemunhas: Geralmente, são necessárias testemunhas para formalizar a declaração.
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