Ex-catador de recicláveis conquista espaço empresarial e gera centenas de empregos

Compartilhe:




Um ex-catador de recicláveis e vendedor de doces em cruzamentos de Marília, conquistou a estabilidade financeira e hoje é um dos empresários mais bem sucedidos de Marília, no interior de São Paulo. Francisco Mateus Del Hoyo, o Mateus da K2, nasceu no distrito de Amadeu Amaral e passou sua infância e adolescência na Vila Jardim, zona Oeste de Marília.
 
Quando tinha cerca de 8 anos, por iniciativa própria, decidiu recolher materiais recicláveis, para vender no ferro velho Luna e engraxar sapatos. “Ninguém me pediu, mas eu via que tínhamos necessidade em casa e queria ajudar. Eu pegava vidro, pedaços de fios de cobre, panelas de alumínio velhas e pedaços de ferro para vender”, relembra.
 
Com espírito empreendedor, percebeu que poderia ter mais receita, se mudasse sua estratégia. Recolher materiais recicláveis demandava tempo e não representava grandes ganhos. “Foi aí que eu tive a ideia de comprar doce em uma fábrica e vender nos cruzamentos. Eu comprava, vamos dizer, em dinheiro de hoje, por R$ 1,00 e vendia por até R$ 5,00. Era um lucro muito bom e eu entregava tudo para minha mãe”, relembra.
 
Mateus nasceu no distrito de Amadeu Amaral.

Ainda criança, Mateus foi estudar na Escola Estadual Monsenhor Bicudo, localizada na avenida Rio Branco. Foi um período difícil, por que vendia doces no período da manhã e estudava de tarde. E ainda se sentia excluído pelos demais alunos, por depender da caixinha para ter material escolar e uniforme.

“Lá tinha um sistema de doação de material do governo estadual e até roupas para quem precisava. A professora perguntava quem era da caixa e apenas eu e um amigo, que era preto, éramos “da caixa”, ou seja, ganhávamos o que precisávamos do governo”, relembra, destacando que isso era muito constrangedor, por que os alunos praticavam bullyng.
 
Após sair do primário, já adolescente, conseguiu entra no Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), para fazer um curso voltado para o comércio. E foi lá, que aos 14 anos, conseguiu o primeiro emprego com carteira assinada. “Eu fiquei muito feliz, porque ia ganhar meio salário mínimo”.
 
Em busca da felicidade
 
Já adulto e em busca de uma situação melhor, foi para São Paulo (Capital). “Lá a situação era outra. Eu era ‘só mais um’ e não passava pelo constrangimento de Marília, onde até os 16 anos nunca havia conseguido uma namorada. Fui morar numa pensão e muitas vezes fiquei sem comer. E quando tinha comida, às vezes era só o almoço, sem café da manhã ou janta durante a semana. No fim de semana, não tinha nada para comer.  Eu era entregador de revista especializada para indústria. O que ganhava não era suficiente para pagar a pensão e alimentação. Muitas vezes sonhei que estava comendo e acordei com muito mais fome. Quando ia trabalhar, olhava atentamente no chão, em busca de pelo menos uma moeda, para comprar um pão, mas nunca achei”, relatou.
 
A situação mudou quando um amigo indicou um emprego de garçom, no colégio judeu Sholen Aleixem, no Bom Retiro. A proprietária da cantina permitiu que Mateus tomasse café da manhã, com tudo o que desejasse comer. Além disso, permitia que ele almoçasse e ao sair, fizesse uma marmita para jantar. “Aí nunca mais passei fome”, destacou.
 
O hoje empresário relembra que, apesar de todas estas dificuldades, nunca desanimou e sempre procurou meios de se manter. Sua passagem pela capital paulista foi rápida. Já aos 18 anos voltou para Marília e não se acostumando mais se mudou para Porto Alegre (RS). Em pouco tempo, conseguiu levar os pais e os irmãos para morar com ele e as coisas começaram a melhorar. “Meus pais trabalhavam, minha irmã tinha emprego e eu comecei a fazer o curso de direito, por incentivo de uma namorada. Tudo estava correndo bem e devagar estávamos prosperando”, comentou.
 
Para ir até a faculdade, Mateus da K2 “cortava caminho” por um centro de compras, onde funcionava as Lojas Americanas. Um dia, ao passar pelo local, viu um anúncio de emprego. Era a oportunidade que estava esperando, para ter sua renda e ajudar ainda mais a família.

“Eu fui lá e me candidatei a uma das quatro vagas. No dia da entrevista, eu estava lá na fila e não me senti bem. Todos estavam bem vestidos e eu estava com a pastinha da faculdade, com uma ropinha simples. Pensei em sair da fila, mas quando olhei para traz, era grande o número de pessoas e fiquei com vergonha de desistir. Acabei ficando”, contou.
 
Ao chegar para a entrevista com a psicóloga, Mateus da K2 foi informado que talvez não fosse contratado, porque o trabalho era em período integral, mas a faculdade consumia o período da manhã. “Eu insisti com a mulher e disse que isso não seria problema, pois se fosse preciso, trancava a faculdade. Eu queria trabalhar e faria qualquer coisa pelo emprego”, afirmou.
 
Seleção profissional
 
O processo de seleção envolveu uma série de atividades e a cada dia era divulgada uma lista. Quem aparecia na lista, continuava no processo de seleção. Se o nome da pessoa não constava da relação, ela tinha sido eliminada.

“Eu sei que meu nome foi ficando. Até que foi reduzido a apenas oito pessoas. Novamente meu sentimento de inferioridade bateu e eu achei que não seria selecionado. O gaúcho é muito bairrista e eles não gostam muito dos paulistas. Eu pensei: estou fora, eles vão escolher um gaúcho, que tem mais presença, é alto, olho azul e não um baixinho que nem eu”, brincou.
 
Na próxima entrevista, para sua surpresa, a entrevistadora era do interior de São Paulo, de Araçatuba:

“Ela ficou encantada comigo, falamos sobre a nossa região, o Estado de São Paulo e das maravilhas paulistas. Foi um alívio e avancei mais uma vez no processo seletivo. Aí chegou a hora do diretor e novamente achei que não passaria. Mas ele era do Paraná (Londrina) e foi muito gentil comigo. Da sala dele dava para ver o movimento das pessoas, com pacotes na cabeça, aquela confusão. Então ele me chamou na janela e perguntou: você está disposto a trabalhar naquele ambiente? Acha que consegue?. Eu respondi que sim e ele falou que o emprego era meu. Eu falei da faculdade, que ia trancar o curso para poder cumprir o horário e ele não deixou. Ele disse: Vamos fazer o seguinte. Você entra depois da faculdade, mas não vai ter hora para sair. Vai ser o último e vai ficar enquanto tiver serviço. Pode ser? Eu topei na hora”. 

Mateus relembra que chegou em casa radiante, mas preocupado. Comunicou a mãe que conseguiu um emprego espetacular, com um salário enorme, que era cinco vezes o que ele ganhava antes. Mas tinha um problema: era preciso trabalhar com terno e sapato social. “Mais eu não tinha esse tipo de roupa. Não sabia nem usar. Aí minha mãe (e mãe sempre socorre a gente) falou que poderíamos comprar a roupa usando o crédito da minha irmã, que trabalhava no banco e podia parcelar. Foi assim que eu comprei meu primeiro terno. Nem conseguia andar direito, no primeiro dia”, afirmou rindo.
 
Mateus da K2 se destacou entre os demais funcionários das lojas Americanas e chamou a atenção de uma empresa de Manaus (AM), para onde havia sido transferido. Essa empresa investigou o histórico daquele jovem e fez uma oferta irresistível:

“Antes de eu ser chamado, eles já tinham todas as informações a meu respeito e sobre o meu trabalho nas Lojas Americanas. A proposta foi muito superior ao que eu já recebia. Eles me ofereceram veículo, residência por conta da empresa, um salário extraordinário e que me garantia uma boa condição de vida e ainda pagaram pelo meu passe. Era a maior rede de supermercados de Manaus e eles queriam que eu fizesse a gestão de 21 lojas. Era possível poupar e até mesmo investir. Mandava dinheiro para minha família, em Porto Alegre e investia em imóveis e negócios próprios”.

Algum tempo depois, sentindo a necessidade de voltar para Porto Alegre a fim de cuidar dos pais, Matheus da K2 pediu demissão do emprego em Manaus, sob protesto dos responsáveis pela empresa. “Eles acharam que eu estava louco. Emprego com salário bom, estrutura, carro à disposição e desempenho impecável. Ninguém deixaria um trabalho desse. Mas eu senti que era hora de voltar para a família e tentar um negócio próprio no Rio Grande do Sul”, contou.
 
Empreendedorismo e crescimento
 
De volta à capital gaúcha, o empresário começou a investir em diferentes negócios. Um deles, no ramo de sorvete soft (que hoje encontramos no MC Donald’s, Burguer King e outros locais), começou a prosperar e se destacar. “Eu alugava espaços em lojas, áreas pequenas, para instalar as máquinas. Eu oferecia o equivalente ao valor do aluguel do comerciante, para usar aquele pequeno espaço. E lógico que ele aceitava, porque livrava o valor do aluguel dele só com o meu negócio” pontuou.
 
Já estabelecido no Sul e sem querer voltar para Marília, Mateus foi surpreendido pela visita de um primo (Carlão), que sugeriu ele levar as máquinas de sorvete para Marília. “Ele disse que seria aniversário da cidade (4 de abril) e que a Esquadrilha da Fumaça ia se apresentar no aeroporto. Seria uma ótima oportunidade de experimentar o sorvete em Marília. Eu topei e fiquei surpreso. Nunca vendi tanto. A máquina não vencia. Nem dava tempo de o sorvete ficar firme”, relembrou.
 
Com isso, acabou instalando lojas do Shorbet Ice, que foi a primeira sorveteria ao estilo do Mc Donald’s e Burguer King, que não existia em Marília. As unidades estavam localizadas na avenida das Esmeraldas, avenida João Ramalho, rua 9 de Julho, São Luiz, Sampaio Vidal e outras regiões. Em pouco tempo o sorvete era o mais conhecido e o que mais vendia na cidade.
 
Conhecendo o mundo
 
Entre os vários negócios iniciados por Mateus da K2, o ramo de tatuagens foi o que lhe proporcionou as experiências internacionais. Foi ele quem inaugurou um dos primeiros ateliês de tatuagens em Marília, com o nome de Laluz de Jesus Taguagens e Piercings, K2 Tattoo Shop e Max Tatoo, por influência do irmão, um eximio tatuador, primeiro a atuar no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.

“Nós fizemos um negócio diferente, trazíamos tatuadores do Sul, nossos desenhos eram inéditos, a técnica era revolucionária e o preço acessível, popular. E com isso conquistamos Marília. Chegamos a ter cinco lojas no Marilia Shopping, Esmeralda, Galeria Athenas (02) e na rua José Sanches Cibantos”, apontou.
 
O sucesso no mundo da tatuagem levou inclusive o empresário a comandar um programa de televisão, chamado Tatoo Ink, na TV Marília (Hoje Canal 4). A atração mostrava as tendências do segmento, com a produção de arte, o uso de produtos e equipamentos de última geração.

“Em pouco tempo, já estávamos viajando pelo mundo, vendendo as desenhos e materiais para tatuagens. E a nossa tatoo é diferente, mais colorida, mais viva. Então o pessoal da Europa, dos Estados Unidos, gostam muito das nossas artes”, explicou.
 
Mateus já visitou mais de 40 países, acumulando vivências e experiências que contribuem para os seus negócios e na sua relação com o meio ambiente e o convívio com as pessoas:

“Eu observo bastante o comportamento das pessoas, a estrutura das cidades e vejo que muita coisa que existe lá fora, pode ser aproveitada aqui em Marília. Nosso país é riquíssimo, pela natureza que tem, pelas condições que nós temos. E para sermos melhores, só depende de nós, das escolhas que fazemos. Eu, com essa história de vida, quero fazer muito pela minha cidade. Pelas pessoas que trabalham comigo, que incentivo a empreender e crescer como eu cresci. Eu dou a elas a mesma oportunidade que tive. Acredito que assim podemos ser e fazer as pessoas felizes”.


Receba nossas notícias no seu celular: Clique Aqui.
Envie-nos sugestões de matérias: (14) 99688-7288


Desenvolvido por StrikeOn.