Glaucia Gomes levou a mulher sem identidade para casa, para evitar que ela fosse para um abrigo.
Parece roteiro de filme: uma mulher sem identidade mora por 50 anos em um hospital que, de repente, é fechado. Ela fica sem teto e está prestes a ser levada para um abrigo, mas é adotada por uma das funcionárias do hospital.
A história é real e aconteceu há dois anos, em Araraquara. Só veio à tona agora, porque as personagens passam por algumas dificuldades financeiras. Quem conta este enredo é a cuidadora Glaucia Andressa Santos Gomes, de 29 anos. Ela conheceu Cotinha quando conseguiu um emprego de copeira no hospital Beneficência Portuguesa, em 2010, a adotou seis anos depois. "Vou cuidar dela o resto da vida”, contou.
Mais tarde Glaucia descobriu que Cotinha, ou Cota como prefere chamá-la, morava há muito tempo no hospital. Ninguém sabe qual o nome verdadeiro da mulher, nem sua idade, nem mesmo quando ela chegou ao hospital.
O que contam é que ela chegou ao hospital ainda criança, junto com o irmãozinho que tinha uns 4 anos, vítimas de um atropelamento por caminhão. O irmão teria chegado morto e ela totalmente enfaixada, apenas com os olhos aparecendo.
Ao longo dos anos, muitas pessoas trabalharam no hospital e todos conheceram a história. Acreditam que as freiras que faziam o atendimento do hospital na época que ela chegou se sensibilizaram com a sua situação e, como nunca ninguém a procurou, passaram a cuidar dela.
Glaucia e Cotinha se conhecem: Mais tarde, o local foi privatizado, as freiras foram embora e Cotinha ficou. Ela foi trabalhar na cozinha e foi lá que Glaucia a conheceu. "Eu vi aquela senhora limpando mesas e achei que fosse mais uma funcionária".
Em 2016, com o fechamento inesperado do hospital, a situação de Cotinha foi denunciada. A polícia levou a idosa para uma casa que abriga mulheres vítimas de violência. Preocupada, Glaucia procurou as autoridades e antigos chefes do hospital para descobrir o seu paradeiro.
"Eu fui atrás para ver como ela estava. Ela chorava sem parar e repetia que queria ir embora. Eu prometi que em três dias tirava ela de lá, mas eu falei da boca pra fora, só para confortar, não acreditava que ia conseguir. Aí, eu liguei para uma assistente social que era amiga da minha mãe, e em pouco tempo eu peguei ela”, contou.
Hoje Cotinha é uma senhora idosa. Visivelmente tem alguma deficiência mental e não fala, mas tem boa interação com as pessoas.
Glaucia não podia imaginar que seu destino seria definitivamente ligado ao dela. A cuidadora levou a idosa para sua casa, colocou-a no quarto da filha e passou a tomar conta dela.
A família não conta com muitos recursos. Hoje Glaucia trabalha como cuidadora em uma casa de repouso. Mas nenhuma dificuldade financeira destruiu a ligação entre as duas mulheres.
A rotina de Cotinha é simples. Na maior parte do tempo, ela fica vendo TV. A idosa caminha com alguma dificuldade – provavelmente uma sequela do acidente – , mas é bastante independente. Só exige cuidados especiais na alimentação, que tem que ser pastosa porque ela não come sólidos.
Aliás, a boneca, que Cotinha chama de 'coreca' é uma das poucas coisas que faz ela sorrir. A outra é quando é perguntada sobre o que sente por Glaucia.
Quem quiser ajudar com roupas ou alimentos pode entrar em contato com a Glaucia no telefone (16) 98200-9625 ou 99963-2598.
Fonte: G1





