Bernarda Gallardo já estava na fila para a adoção quando leu em um jornal que uma recém-nascida havia sido abandonada, morta, em um lixão. Ela continuou querendo adotar um bebê - mas, agora, queria um bebê morto.
A menina, que ela passou a chamar de Aurora, foi abandonada em um lixão em Puerto Montt, no sul do Chile, há 12 anos. Meses depois, Bernarda conseguiu adotar a menina e dar a ela um funeral decente.
Desde então, ela adotou e enterrou outros três bebês.

Um de seus objetivos é chamar atenção para a dificuldade de mães chilenas que não têm condições de ficar com os filhos - o aborto é proibido no país até mesmo em casos de estupro e os hospitais não têm um local onde os bebês possam ser deixados anonimamente.
A história de Bernarda começou em 4 de abril de 2003, quando o corpo de Aurora foi encontrado. Ele havia sido colocado em um saco de lixo preto e jogado na lixeira, que acabou indo parar no lixão.
Um dos catadores encontrou o corpo da menina, e Bernarda ficou horrorizada. Imediatamente, decidiu dar um enterro decente ao bebê.
O desejo de Bernarda de fazer algo pelo bebê em Puerto Montt foi o início de um processo longo e burocrático.
Já no início, ela decidiu chamar a menina de Aurora. "Para mim, ela era um pequeno raio de luz que mostrava que a escuridão não era a única possibilidade."
Mas conseguir enterrar Aurora não foi fácil. No Chile, de acordo com ela, se um corpo não é reclamado por um membro da família ele é classificado como dejeto humano e jogado fora com outros materiais hospitalares. Mas Bernarda conseguiu interceder antes que isso ocorresse.

Os médicos precisam provar que o bebê chegou a viver fora do útero da mãe para que ele possa ser registrado como um ser humano e ter direito a ser enterrado. Por isso, o corpo de Aurora teve que ser examinado. Normalmente, os médicos preferem dizer que o bebê morreu no parto para proteger mães vulneráveis. O aborto é ilegal no Chile em todas situações, e se uma mãe for pega abandonando seu filho, mesmo se deixá-lo no hospital, ela pode pegar até cinco anos de prisão.
BUROCRACIA
Bernarda também teve que adotar legalmente Aurora para poder enterrá-la, mesmo com a criança morta.
Inicialmente, o juiz encarregado do caso teve dúvidas sobre a intenção dela. Ele achava que Bernarda era a mãe biológica de Aurora e que queria enterrar o corpo porque estava se sentindo culpada após abandoná-la.
Mas ela o convenceu de suas boas intenções, e ele disse que era o caso mais estranho que ele já tinha visto, e que nunca ninguém no Chile havia adotado um bebê morto. Mas ele acreditava que ela estava fazendo a coisa certa.
Foram meses até conseguir todos os exames e vencer a burocracia, mas Bernarda finalmente teve permissão para levar o corpo de Aurora e enterrá-lo.
O FUNERAL
Quinhentas pessoas compareceram ao funeral - eles haviam acompanhado a história de Aurora pelo jornal local que publicou a primeira reportagem sobre o caso.
Bernarda disse que o clima era de uma grande festa de aniversário - uma celebração da vida de Aurora. Havia crianças, médicos, enfermeiras, a imprensa local, pessoas do interior e o juiz. Cantaram músicas e leram poemas sobre Aurora.
Para Bernarda, foi importante tantas pessoas terem ido a cerimônia. "Queria que a comunidade pensasse sobre o que estava acontecendo. Por que bebês estavam sendo abandonados para morrer quando havia ao menos quatro famílias prontas e esperando, nas condições certas, para adotar um bebê?"
"Em vez de matar os bebês, deem eles para adoção!"
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