Casal se apaixonou em tratamento e luta junto contra doença incurável

O casal é citado pelos médicos como um exemplo de dedicação ao tratamento.
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Osmar puxava seu carrinho com uma pilha de caixas pelos corredores do Hospital das Clínicas, como costuma fazer a cada 15 dias. Mas algo desviou o seu olhar.

Uma mulher baixa, magra, de vestido preto e cabelo comprido chamou sua atenção ao aparecer no fim de uma longa rampa, a 30 metros de distância. "Ela tinha um decote médio e, de longe, eu pude ver um curativo. Eu falei: é essa moça aí mesmo", conta ele. Minutos depois os dois já estavam conversando.

Meses depois, Osmar Elias, de 32 anos, e Mônica Nery, de 33, começaram a namorar. Eles têm doenças incuráveis e degenerativas diferentes no intestino, mas fazem juntos o tratamento de nutrição parenteral - alimentação artificial administrada por meio de uma artéria, substituindo a alimentação oral. Tudo no mesmo hospital onde se conheceram, há quatro anos.

O casal é citado pelos médicos como um exemplo de dedicação ao tratamento. Juntos, eles estudam, se cobram e, principalmente, estão sempre dispostos a oferecer ajuda e carinho um ao outro.

Em 2006, Osmar sentiu, em um dia, uma dor na barriga assim que chegou do trabalho. Ele desconsiderou o desconforto e foi lavar seu carro. O incômodo aumentou e ele foi levado às pressas ao hospital. No local, a queimação estomacal ficou insuportável e o fez desmaiar.

Quando acordou, Osmar estava entubado e com um grande corte no tórax. O jovem passou por uma cirurgia de emergência após os médicos detectarem um grave problema em seu abdômen. Segundo eles, seu intestino se espremeu sem motivo aparente - algo raríssimo de ocorrer, exceto em acidentes automobilísticos ou quedas.

Osmar passou por cinco operações consecutivas para cortar partes necrosadas até seu intestino ficar com apenas 20 centímetros - tamanho atual. O órgão de homem adulto tem, em média, de 5 a 7 metros. O jovem faz o tratamento há 11 anos.

Quando Mônica tinha 17 anos, ela percebeu que sua barriga inchava quase sempre que comia. Os alimentos ficavam represados, pois seu intestino não conseguia fazer a digestão. A situação começou a ocorrer com uma frequência cada vez maior e só era solucionada quando todo o líquido, ar e comida eram bombeados e retirados por uma sonda colocada no nariz.

Mesmo após dezenas de exames e oito meses internada, nenhum médico soube identificar qual era sua doença. Eles a definem até hoje apenas como pseudobstrução intestinal. É como se uma barreira impedisse a passagem da comida pelo órgão e dificultasse a digestão.

Casal faz consulta junto no Hospital das Clínicas, em SPMas a rotina semanal de colocar uma sonda no nariz ou diretamente no estômago era muito incômoda. Então, Mônica decidiu seguir o conselho dos médicos e passou a se alimentar por um cateter na artéria. Foi quando ela conheceu Osmar.

"A chance da gente se encontrar era muito pequena. Ela é uma alma gêmea, a quem posso contar tudo. Eu não poderia ter encontrado uma pessoa mais compatível comigo, uma pessoa que eu gostasse mais de estar junto", define Osmar.

Para Mônica, a história deles é muito parecida com o filme A Culpa é das Estrelas. A produção conta a história de uma adolescente diagnosticada com câncer que se mantém viva graças a um remédio em fase de testes. Mônica e Osmar já assistiram ao filme incontáveis vezes.

 

Mônica e Oscar caminham em corredor do Hospital das Clínicas

Transplante: À medida que o tempo passa, a nutrição artificial recebida pelo casal tem impacto sobre outros órgãos, que ficam sobrecarregados, como rins e fígado.Uma das poucas saídas para se livrar da doença é fazer um transplante de intestino. Mas, devido ao alto risco de morte, o procedimento não está nos planos do casal.

"A gente está num momento estável. Além disso, a recuperação é muito difícil porque o intestino é um órgão muito grande e complexo. Se oferecessem a cirurgia agora, de graça, a gente não faria", diz Mônica.

O transplante é a última opção a ser adotada para qualquer paciente nessas condições. Mas o retrospecto desse tipo de cirurgia no Brasil não é favorável. Nenhum dos pacientes sobreviveu a um transplante de intestino devido à complexidade de implantar o órgão.

A maior referência nesse tipo de transplante é um médico que atua no Estados Unidos. O valor que ele cobra pela cirurgia é de cerca de R$ 1 milhão.

Mas nenhuma das limitações tira o sonho do casal, que mora no extremo leste de São Paulo - ela no Itaim Paulista e ele em Guaianases - de morar junto futuramente.

"Eu tenho planos de sair da casa dos meus pais e me casar com alguém que me entendesse como o Osmar. Ele seria o candidato ideal", diz Mônica enquanto olha sorrindo para o namorado.

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