O documento de 170 páginas em inglês é de autoria não identificada, mas tem título direto e conteúdo desconcertante.
Trata-se de uma espécie de tutorial com descrição detalhada de onde encontrar crianças, como se aproximar delas e seduzi-las aos poucos, como se fosse um jogo ou uma brincadeira. Orienta a procurar crianças, primeiro, na própria família, junto a mães solteiras ou em parques e praças. Até simulação de diálogos o manual oferece.
O texto não apenas ensina como fazer, mas também reitera que sexo com crianças não é repugnante. Uma versão do manual foi encontrada no final do ano passado no computador do médico Fábio Lima Duarte, de 36 anos, que já foi preso duas vezes em Belo Horizonte (MG).
Ao ser preso, Fábio Lima Duarte admitiu que o material era dele e se disse viciado nesse tipo de conteúdo. A defesa do médico argumentou, num pedido de liberdade junto ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), que ele era "portador de parafilia" (gosto pelo sexo bizarro).
Detido em casa, uma confortável cobertura na capital mineira, ele foi solto pouco depois. Era réu primário, com bons antecedentes e endereço fixo.
Por isso, a delegada que acompanhou o caso, pediu à perícia que tentasse encontrar qualquer registro de que o médico havia, além de baixado, também compartilhado o material ilegal. Mas no fim, o conteúdo encontrado no computador do médico acabou surpreendendo os policiais e o levando de volta à prisão em fevereiro, numa nova investigação.
"A gente sabia que o caso era maior, mas, quando veio o laudo, tinha coisas muito piores. O próprio perito ligou chamando atenção para o conteúdo e dizendo que tinha muita coisa", conta a delegada Renata Ribeiro, da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente.
O material que surpreendeu até mesmo a perícia, experiente em analisar esse tipo de conteúdo, tinha, além do tutorial e de imagens de sexo explícito com crianças e adolescentes, imagens produzidas pelo próprio médico.
Ele gravou partes íntimas de cerca de 100 pacientes durante exames e salvou os vídeos em pastas. A polícia também identificou no computador uma pasta com o nome "Natal", que nada tem a ver com a festa de fim de ano. O médico filmou ele próprio fazendo sexo com menores em uma viagem a Natal (RN).
Também registrou, graças a um circuito interno de filmagem no próprio quarto, na cobertura onde morava em Belo Horizonte, o que fazia com garotas de programa e jovens com quem saía. Em uma das imagens há uma cena de tortura.
O médico usava ainda uma câmera no jaleco e, em algumas imagens, aparece ele próprio posicionando o equipamento no consultório. Fábio Lima Duarte atuava como clínico geral em clínicas da região metropolitana de Belo Horizonte.
Uma das pacientes tinha 13 anos quando foi examinada pelo clínico, que fazia exames como ultrassonografia vaginal. Pelas imagens, ela aparece no consultório acompanhada por uma adulta, a mãe, e, numa conversa, fala a idade. Enquanto faz o exame, diz a delegada, ele toca as pacientes de forma inapropriada e filma as partes íntimas delas.
A polícia solicitou junto às clínicas onde Fábio Duarte trabalhava a lista de pacientes atendidos por ele. São mais de 1 mil em cada um dos centros de saúde.
A história do médico, serviu de alerta para as próprias funcionárias da delegacia. Também chamou a atenção pelo fato de Fábio ser jovem, solteiro e ter uma profissão nobre – e usá-la para abusar de adolescentes e jovens mulheres.
Mas quando o assunto é pedofilia, não há classe social nem idade e há manuais para pedófilos circulando no espaço cibernético, juntamente com imagens pornográficas com crianças.
Excluir arquivos de forma permanente da lixeira do computador não é garantia de que o conteúdo desprezado vai desparecer. Na prática, esvaziar a lixeira apenas permite que o computador grave por cima, no espaço ocupado pelo arquivo deletado. Com equipamentos adequados, é possível recuperar as informações.
Apagar exclusivamente da lixeira foi o que um policial militar, alvo da mais recente operação nacional contra pornografia infantil na internet tentou fazer. Enquanto os tios do policial abriam a porta para a polícia, ele tentou apagar evidências de que acessava imagens com cenas de sexo explícito e imagens pornográficas com crianças e adolescentes.
Estava a um passo de apagar da lixeira todo o conteúdo do computador quando os policiais chegaram ao cômodo dele em sua casa, em Minas Gerais. A polícia, assim como fez no caso do médico, vai tentar identificar se ele compartilhou o que baixou.
No caso de Fábio Lima Duarte, a perícia não identificou se ele compartilhou o material que produziu. Havia, contudo, indícios de que parte do conteúdo que baixou usando a chamada rede P2P (peer to peer, ou par para par) foi também disponibilizado online.
Prevenção e informação: É preciso conversar com os filhos sobre a pedofilia e os riscos da exposição, em especial online. O alerta,vale para jovens e também para pais que postam imagens dos filhos.
A pedofilia é descrita pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como um transtorno sexual que se manifesta "por pensamentos sexuais persistentes, fantasias, impulsos ou comportamentos envolvendo crianças e adolescentes".
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